MEXICO D.F., 24 de mar de 2006 às 16:39
Em uma conferência pronunciada em Monterrey, o jornalista italiano Bruno Volpe explicou os elementos de continuidade e de diferença entre o pontificado do Papa João Paulo II e a do Papa Bento XVI.Na conversa, Volpe comentou que "os dois, um na Polônia, o outro na Alemanha, lutaram contra regimes totalitários, comunismo e nazismo. Daí a origem de dois Papas defensores dos direitos humanos contra qualquer ditadura".
Ambos, prosseguiu o vaticanista, "estudaram religião e teologia em seminários clandestinos". "O marxismo que nega ao homem a liberdade é inimigo do próprio homem" declarou Karol Wojtyla, enquanto Joseph Ratzinger precisou a respeito que "o comunismo assim como o nazismo constituem vergonhas de nosso tempo".
Volpe lembra que ambos iniciaram seus respectivos pontificados exortando os fiéis a "não ter medo" e que sua postura frente à teologia da libertação é similar. "João Paulo II em 1979 durante a Conferência de Puebla no México ‘muitos opinam que a mudança da sociedade seja uma revolução marxista. A verdadeira revolução é moral e não política’, enquanto que Bento afirmou que ‘a teologia da libertação está errada. O Evangelho não é marxismo, nem luta de classe’".
Para o vaticanista, as coincidências também podem ser encontradas na denúncia do relativismo moral, tema fundamental para Bento XVI. Em seguida lembra que no capítulo 11 da Familiaris Consortio, João Paulo II afirma: "Deus é amor, o amor é característica fundamental de cada ser humano" e Bento XVI intitulou sua primeira encíclica "Deus é amor". João Paulo II e Bento XVI coincidem também no papel fundamental do sacramento da Eucaristia.
Embora muitos "jornalistas e críticos progressistas afirmam que entre os dois Papas há opiniões diferentes" quanto ao Concílio Vaticano II, Volpe lembra que é justamente o contrário. João Paulo II no capítulo 57 do documento "Novo millennio ineunte" lembra que "o Concílio Vaticano II é texto qualificado, normativo dentro da tradição e do Magistério da Igreja", e Bento XVI afirmou no dia 22 dezembro passado que "o Concílio Vaticano II não foi ruptura com o passado, mas sim é continuidade na tradição e Magistério da Igreja". "Duas idéias iguais, mas duas críticas diferentes", precisa Volpe.
Receba as principais de ACI Digital por WhatsApp e Telegram
Está cada vez mais difícil ver notícias católicas nas redes sociais. Inscreva-se hoje mesmo em nossos canais gratuitos:
Diferenças
Quanto à diferenças, o jornalista italiano destaca que embora "João Paulo II tenha instituído o encontro de Assis com representantes de todas as religiões, o então Cardeal Joseph Ratzinger era contra a idéia, por que segundo ele podia dar uma perigosa confusão entre religiões, quer dizer, de sincretismo, a idéia de que todas as religiões fossem iguais. Por isso é muito provável que no futuro o Papa Bento XVI cancele este tipo de encontros".
"Com um documento litúrgico sem precedentes no início de seu pontificado, Bento XVI, confirmando a canonização como ato pontifício, decidiu delegar as beatificações a um cardeal com a celebração do rito na diocese de pertença do beato e não em São Pedro. Esta é uma mudança importante", acrescenta Volpe.
Para o vaticanista, "João Paulo II na encíclica sobre Eucaristia já denunciou os abusos litúrgicos pós conciliar; mas algumas celebrações litúrgicas de João Paulo II eram longas, barrocas e às vezes redundantes". "as de Bento XVI parecem mais sóbrias, curtas, elegantes. O novo Pontífice quer recuperar depressa o sentido do sagrado, da beleza, da solenidade nas celebrações litúrgicas; limitando danças, aplausos, usos e costumes locais não compatíveis com a liturgia romana", acrescenta.
Finalmente Volpe comenta um dado anedótico: "Nunca tinha acontecido na história da Igreja que o Cardeal Decano celebrante do rito fúnebre se tornasse o próximo Papa. Um sinal de continuidade!".